terça-feira, 20 de outubro de 2009

A espécie racional


Desde pequeninos já temos uma noção do que é bom e o que é ruim, de bem e mal. Esta visão, que é fortalecida enquanto crescemos pelas influências a que somos submetidos, é grandemente dependente daquilo que o meio à nossa volta, pais, amigos, a comunidade em que vivemos, nos mostra e ensina. Um jovem nascido numa favela do Rio de Janeiro, por exemplo, com poucas oportunidades de vida, sem uma boa educação à disposição e crescido num meio cruel e de marginalidade, pode ver em um ato como “matar” algo ruim; sabe das consequências disso, mas sabe também que pode ser necessário a isso recorrer para salvar a própria vida, no mundo em que ele está inserido. Um outro jovem, desta vez nascido numa família de classe média-alta, bem estudado, cercado de um círculo de amigos e com muitas perspectivas de vida, consideraria matar como um crime atroz, que nunca pensaria em cometer. Todos temos escolhas, é verdade. Podemos pensar, “sou bom, tenho um bom caráter, não transgrido a lei, não mato, não roubo, cumpro com os meus deveres...”, mas vejamos aquilo que fazemos todos os dias, analisemos as consequências de nossos atos. Um pedaço de papel jogado na rua, ou uma bituca de cigarro, uma coisa qualquer que jogamos pela janela do carro ou do ônibus. Creio que muitos dos que fazem isso sabem da consequência desse simples ato. Em um centro urbano, pode entupir boeiros e canais de drenagem de água de chuva, causando inundações, destruição de imóveis, carros e até de vidas. Onde está a diferença? “Matar a sangue frio é pior”, ou ainda, “Isso é por causa da ignorância do povo, é culpa do governo”. Ambos os atos foram conscientes, tanto do ato em si quanto da consequência. O fato é que nossa natureza nos leva a tentar nos eximirmos da culpa. Eu não sou culpado, sou uma boa pessoa. Mas vejamos um outro exemplo. Bebidas alcoólicas são amplamente consumidas na sociedade em geral, e jovens costumam ser consumidores assíduos. É fato que o álcool faz mal, o organismo o expele o quanto antes quando o ingerimos para minimizar seus efeitos. Apesar disso, quando bebido moderadamente, não costuma causar muito mal. Mas caso bebido exageradamente, os danos são visíveis. A pessoa fica alterada de seu estado de sã consciência, e os efeitos são diversos. Além dos malefícios imediatos, principalmente quando o hábito é frequente, graves problemas de saúde podem surgir a longo prazo. Algo considerado inofensivo pode acabar trazendo dor e sofrimento em um leito de hospital, tanto para o usuário quanto para os que o amam. Isso sem falar dos bizarros acidentes de trânsito. Muitos talvez tenham visto o acidente envolvendo um deputado estadual do Paraná em que o parlamentar, dirigindo embriagado a altíssima velocidade à noite, provocou um acidente fatal, para dois outros jovens, pois o deputado sobreviveu. Os jovens morreram na hora, sendo que um deles, por causa da violência da colisão, foi decapitado. Neste caso a falta de instrução não é um fator tão decisivo para o crime cometido, pois não se pode aplicá-la ao parlamentar. Somos realmente bons? Se somos bons, por que fazemos esse tipo de barbárie? Por que a espécie dita racional é ao mesmo tempo tão próxima da irracionalidade?

4 comentários:

  1. Concordo plenamente. Todos temos escolhas. O tal jovem da favela, por exemplo, pode ter escolhido se esforçar pra estudar ao invés de ir matar alguém pq "é necessário" (conheço pessoas q se esforçaram e conseguiram). Já o jovenzinho classe média com muitas oportunidades pode simplesmente ter sido mal criado...ou ter tido más influências de amigos etc...e ido pro mundo das drogas e crimes.
    No caso das bebidas, elas são um perigo pra quem é irresponsável mesmo. Novamente, tudo depende da sua escolha de beber responsável ou irresponsavelmente.
    Concordo contigo. E esse texto inteiro não tem absolutamente nada a ver com Deus.

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  2. Eu não nasci nas mesmas condições que um jovem de alguma favela do Rio, tive pais amorosos e que me deram uma boa educação. Eu sou bom por causa disso? Eu tive mais chances que o outro jovem, um ambiente muito mais favorável. Eu não posso dizer que se eu tivesse nascido no lugar do tal jovem eu seria o que eu sou hoje ou que eu não seria um bandido. Opção de ascensão social todos temos. Mas é inegável que nascido onde eu nasci, essa ascensão é muito mais fácil que se eu tivesse nascido numa família sem estrutura, pobre, num ambiente ruim. Se o jovem da favela que se tornou bandido tivesse tido a mesma chance que eu e assim não tivesse se tornado um bandido, o jovem então seria bom? Qual a diferença? Nos dois casos se trata da mesma pessoa, mas em um, havia muitas perspectivas melhores que no outro caso. Afinal, eu sou bom ou mal? Não depende de mim então?

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  3. Foi exatamente meu ponto... independente das condições, você pode ser bom ou ruim. Vc poderia ser um bandido, o bandido podia ser alguém estudioso etc... Isso vai partir de muitas influências que vc vai ter a vida toda... família, amigos, condição social etc... e eu particularmente acredito em algo genético tb...pq tem gente q cresce com tudo pra ser uma pessoa certinha e vira gente ruim... @_@

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  4. Então a gente não tem escolha? Porque esses fatores todos que você citou, influências de família, genética, o meio, essas coisas a gente não controla. Aliás, deu uma olhadinha no post seguinte? =P

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